E o Oscar vai para… Edward Snowden!

Cartaz do filme Citizenfour.

Citizenfour, o filme de Laura Poitras sobre Edward Snowden, ganhou o Oscar de melhor documentário de 2014. O filme é um registro cuidadoso de tudo o que aconteceu desde que Laura recebeu um e-mail anônimo pedindo que ela usasse criptografia, passando pela viagem a Hong Kong para encontrar seu interlocutor junto com o jornalista Glenn Greenwald, até a repercussão dos vazamentos nos jornais de todo o mundo.

O documentário não economiza críticas sobre a política de vigilância global na qual as agências de inteligência dos EUA e do Reino Unido, NSA e GCHQ, tem papel destacado. Por isso, produzí-lo não foi um processo fácil.

Laura, que é americana, teve que se exilar em Berlim para escapar de ser censurada. David Miranda, brasileiro e marido de Glenn, foi detido e interrogado por nove horas no aeroporto de Heathrow em Londres quando voltava de Berlim onde a encontrou.

Esse e outros acontecimentos aparecem no filme, no qual também estrelam Julian Assange, Jacob Appelbaum e o Juntos. Nos orgulhamos de fazer parte dessa história defendendo a liberdade de Snowden e o direito à privacidade na Internet.

Juntos & David Miranda

O rechaço à vigilância e ao controle digital tem caráter anti-imperialista e democrático em defesa das nossas organizações. A Internet, com seu poder de conexão e distribuição de informação, foi fundamental para a revolução árabe, para o movimento dos indignados espanhóis e para os protestos de junho de 2013 no Brasil. Junho, aliás, que foi o mês no qual Snowden, Glenn e Laura se encontraram pela primeira vez.

Em declaração divulgada pela ACLU (American Civil Liberties Union) sobre o Oscar conquistado pelo documentário, Snowden afirma que sua esperança é que esse prêmio encoraje mais pessoas a verem o filme e sejam inspiradas pela sua mensagem de que cidadãos comuns, trabalhando juntos, podem mudar o mundo.

O Juntos parabeniza Laura, Glenn, David e Snowden pelo prêmio mais que merecido. Citizenfour estreia no mês que vem no Brasil. Divulgaremos datas e locais nas nossas redes assim que houver mais informações.

Publicado originalmente no Juntos.

Direto do Chile

Os Carabineros, los pacos hijos de Pinochet, saíram à caça. Pegavam qualquer um pelo caminho. Como zombies babando atrás de sangue novo. Corríamos para ajudar uns aos outros. Numa rua distante, sacaram um dos nossos.

(Nathalie Drumond, 25/08/2011)

É bastante raro eu escrever um post no meu blog para recomendar outro. Nem lembro a última vez que fiz isso, mas provavelmente foi na época do 1001 Gatos de Schrödinger. Os relatos da minha amiga Thalie, que está no Chile acompanhando e participando da mobilização dos estudantes e do povo chileno, me intimam a fazê-lo.

É tempo de mudança no mundo. As revoluções árabes inspiraram multidões a irem pras ruas em busca de alternativas mais democráticas (com o povo no poder de fato) à política dos banqueiros e das empresas que impera em todo o planeta. Nossa geração, que cresceu nos anos 90, começou a perceber que o capitalismo não é invencível e vê que a ação coletiva pode produzir mudanças.

O exemplo foi pra vários países vizinhos, seguiu pra Europa (Espanha, Grécia, Islândia, Inglaterra, Portugal, entre outros), até pros Estados Unidos (grande mobilização em Wisconsin no primeiro semestre, que a mídia quase não mostrou) e há mais de dois meses tem grande expressão aqui perto, na América Latina: no Chile.

Protestos no Chile

Como o professor Vladimir Safatle escreveu há duas semanas na Folha de São Paulo: Nessas horas, vale a lição de Maria Antonieta: aqueles que não percebem o fim de um mundo são destruídos com ele. Há momentos na história em que tudo parece acontecer de maneira muito acelerada. Já temos sinais demais de que nosso presente caminha nessa direção. Nada pior do que continuar a agir como se nada de decisivo e novo estivesse acontecendo.

No caso do Chile, a Folha continua agindo como se nada de novo estivesse acontecendo. Em meio a uma greve geral convocada para ontem e hoje, ela noticiou que “Para esta quarta-feira não está previsto qualquer protesto no Chile”. Na verdade, pasmem: a única notícia sobre o Chile que vi na mídia tradicional ontem foi a fusão entre um banco chileno e um de outro local. Procurei por “Chile” na página inicial da Folha Online e o Firefox posicionou meu cursor numa promoção de passagens aéreas.

Nesse prospecto, e aproveitando a facilidade que a internet nos proporciona pra compartilhar em tempo real informações boicotadas por essa velha imprensa, o blog de uma revolucionária que acompanha por dentro tudo o que está acontecendo em Santiago tem um valor inestimável.

O Direto do Chile é, nas palavras da Thalie: uma espécie de diário de bordo da estada no Chile e do rumo das mobilizações. Trata de política, não apenas daquela dos profissionais de gabinete, mas principalmente de uma nova forma de se fazer política que tem despontado neste último período. É sobre a política que move mulheres e homens a tomar as ruas e as praças pelo mundo que trataremos aqui, mais especificamente daquela que está sendo criada e recriada com as mobilizações do Chile. Inspirada pelos dizeres dos niños ao longo das marchas “que se perca o ano letivo, mas não se deixe passar a educação de Pinochet”. Já basta! É tempo de construir o novo e ele está em nossas mãos.

Visita (e divulgação) obrigatória: diretodochile.juntos.org.br

© 2005–2020 Tiago Madeira