Companheiro de jornalista do caso Snowden é interrogado por 9 horas

David Miranda e Glenn Greenwald no Rio de Janeiro.

O brasileiro David Miranda, companheiro de Glenn Greenwald, foi detido e interrogado por 9 horas sem direito a advogado numa escala no aeroporto de Heathrow (Londres). Ele estava retornando ao Rio de Janeiro de uma viagem a Berlim, onde havia passado a última semana com a cineasta americana Laura Poitras, que trabalhou nas reportagens sobre a NSA.

O motivo de sua detenção foi a lei anti-terrorista aprovada pelo Reino Unido em 2000. De acordo com um documento publicado pelo governo do Reino Unido sobre tal lei, “menos de 3 pessoas a cada 10000 são examinadas quando elas passam pela fronteira” (David não estava entrando no Reino Unido, mas apenas em trânsito para o Rio). Além disso, “a maioria das verificações, mais de 97%, dura menos de uma hora” e um apêndice do documento afirma ainda que apenas 0,06% das pessoas detidas são mantidas por mais de 6 horas.

Como ressalta a nota do Itamaraty, “trata-se de medida injustificável por envolver indivíduo contra quem não pesam quaisquer acusações que possam legitimar o uso de referida legislação”. Com efeito, o caso entra para a extensa lista dos abusos cometidos em nome da “caça ao terrorismo”, mesma lista onde se encontra a espionagem da NSA sobre os cidadãos de todo o planeta publicada por Glenn no The Guardian.

David Miranda foi questionado sobre as reportagens que Glenn Greenwald e Laira Poitras estão escrevendo sobre a NSA e a agência britânica homóloga, a GCHQ. Antes de ser liberado, os oficiais britânicos apreenderam vários de seus bens, incluindo laptop, celular, vários consoles de videogame, DVDs, pendrives e outros materiais. Não disseram quando devolverão, nem se devolverão.

A tentativa de intimidação não funcionou. Pelo contrário. Como Glenn Greenwald afirmou em texto publicado no The Guardian, “cada vez que os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido mostram sua verdadeira face ao mundo — como quando eles não permitem que o avião do presidente da Bolívia voe para seu país, quando ameaçam jornalistas com processos, quando têm comportamento como os que tiveram hoje — o que eles fazem é sublinhar por quê é tão perigoso permitir que eles exerçam em segredo o poder da espionagem massiva”.

Publicado originalmente no Juntos.

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