Semana santa

Acordei às 06:30. Às terças eu tenho aula de Álgebra ás 08:00 e não queria perder essa, porque a professora ficou de corrigir minha nota. Peguei o circular às 07:35. Cheguei no IME às 07:45. Horário perfeito.

Porém, observei que as salas estavam fechadas e não havia alunos. Vi apenas seguranças, moças da limpeza e um ou outro professor. Perguntei para um segurança what the hell estava havendo. Ele informou que não tem aula na Semana Santa.

Jesus on the Cross (crédito: DNQA/Flickr)

Lembrei-me que tinha ouvido algo sobre a Semana Santa na semana passada, mas não dei muita atenção. Acho que meu cérebro ignorou porque não viu sentido em emendar uma semana inteira por causa de um feriado na sexta. Pensei que deveria ter ido mais nas aulas semana passada que algum professor teria avisado. Mas tudo bem. Porque notei que felizmente a biblioteca estava aberta, logo minha ida ao IME não teria sido em vão.

Havia reservado um livro que seria devolvido anteontem chamado Matching Theory (László Lovász, M. D. Plummer). É um livro fora de circulação, raríssimo e que, segundo consultas na internet, só existe em duas bibliotecas no Brasil: a do IME-USP e a do IMPA.

Eu estou procurando este livro desde o início de março, quando ainda estava em Floripa. Reservá-lo foi uma das primeiras coisas que fiz quando cheguei no IME (logo depois de fazer a carteirinha na biblioteca, é claro). Estava extremamente feliz por finalmente poder tê-lo.

Então pedi o livro à moça. Ela deu uma olhada nos livros que tinham chegado. Disse que este livro não chegou e que nem via sentido em ele ter chegado na semana santa. Eu disse-lhe que deveria ter chegado no dia 05. Ela duvidou. Eu insisti pra ela olhar na ficha. Ela olhou, riu (da minha cara) e disse que o livro estava com um professor.

“E daí?”, pensei. “Os professores devem ter um tempo maior de entrega, e só. Certo?”

Não. Errado. Perguntei à moça se o professor tinha atrasado a devolução e ela respondeu dizendo que os professores não só tem um prazo maior como não precisam devolver o livro no prazo. Ora, para quê o prazo então?

Controlei-me e perguntei então qual é o professor que estava com o livro. Provavelmente é alguém do grupo de otimização combinatória (talvez o meu orientador de iniciação científica), eu poderia falar com ele pra tirar cópias. A moça respondeu que não pode dizer.

Excelente então, fico sem livro e sem previsão de quando o professor vai devolver, sem nem saber se o livro ainda existe. Talvez eu nunca consiga o livro. Quem sabe?

Educadamente agradeci e fui pegar o circular para voltar pra casa. Há cinco dias estou morando a 160m da Entrada do Mercadinho (i.e., 700m do ponto de circular mais próximo dentro da Cidade Universitária).

Quando estava quase chegando ao ponto de ônibus, vi o circular passando. Droga, mais uns 15 minutos de espera. Para não ficar sem fazer nada, resolvi ir andando.

A USP é enorme e tenho a impressão que andar com o Network Flows (Ahuja, Magnanti, Orlin) na mochila aumenta consideravelmente o seu tamanho.

Há ao menos duas maneiras de ir andando do IME pra minha casa. A primeira é o menor caminho, passando pela Rua do Matão (que não tem esse nome em vão, de fato fica no meio de uma selva). A segunda é o maior caminho, mas é pela civilização. Optei pela segunda.

Após três quilômetros e uns 30 minutos, cheguei (cansado) aqui (e, é claro, no meio do caminho outro circular passou por mim). Uma hora decididamente inútil. Acho que foi o meu trote.

Ok, menos, também não foi tão ruim quanto o dele (crédito: FADB/Flickr)

Ao menos nunca mais me esquecerei que na USP não tem aula na Semana Santa.

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© 2005–2020 Tiago Madeira